De grão em grão


Mesmo sem números atualizados sobre o volume de grãos perdidos durante o transporte – o último levantamento realizado pelo IBGE foi em 2003 -, estima-se que entre 10% e 15% da produção agrícola se perde no processo de escoamento dos grãos. Considerando a safra 2010/2011, na qual o País produziu mais de 162 milhões de toneladas, este percentual representa mais de 24 milhões de toneladas, um montante suficiente para carregar uma frota de carretas graneleiras. Cabe lembrar que esta perda pode ser ainda maior, porque parte da produção se perde na área produtiva, dizem especialistas.
Porém, nem todos concordam com esta estimativa. Dilvo Grolli, diretor presidente da Coopavel, por exemplo, garante que no transporte as perdas são de no máximo 0,25%. Portanto, segundo ele, “não ultrapassam cinco milhões de toneladas”. O executivo justifica este número destacando que tanto o custo de transporte quanto o próprio grão estão com valor bastante elevados, por isso há um controle severo no escoamento da produção. “O caminhão é pesado quando carrega e descarrega. Se houver alteração no peso superior à margem de 0,25%, a transportadora ou o carreteiro têm de ressarcir as empresas donas dos grãos. Portanto, ninguém quer perder”, argumenta.
Na opinião de Cláudio Adamuccio, presidente do G10, a principal perda acontece no transbordo dos grãos entre o campo e os silos de armazenamento. “Quando o caminhão é carregado na fazenda, muitas vezes ele não é pesado. Em geral, este procedimento acontece somente quando este veículo chega ao silo, portanto, não existe uma real noção do que se perde neste pequeno trajeto, tendo em vista que estes caminhões – em geral – são mais antigos e mais suscetíveis a falhas”, justifica.
Para solucionar este problema, transportadores estão buscando alternativas para evitar a perda dos grãos e, consequentemente, reduzir os prejuízos do agronegócio brasileiro – estimado em R$ 2,7 bilhões a cada safra. Na Transpanorama (empresa do Grupo G10), por exemplo, todos os graneleiros são vedados com espuma. Segundo Adamuccio, com esta medida foi possível zerar o índice de perda de grãos da empresa, que há quatro anos era de aproximadamente 0,5%. “A cada viagem perdíamos aproximadamente 74 quilos de grãos, o equivalente a R$ 53, em média. Parece pouco, mas quando se analisa o volume de viagens realizadas durante uma safra toda é algo muito expressivo”, destaca. Questionado sobre o valor economizado com a adoção da medida, Adamuccio diz que o montante foi destinado ao centro de treinamento da companhia, pois, em sua opinião, um motorista capacitado é fundamental para que as perdas realmente não aconteçam. “Não adianta adotar soluções para reduzir as perdas e o motorista sobrecarregar o caminhão com grãos, pois eles cairão no caminho”, alerta.
Mas a busca por soluções não fica apenas entre os transportadores. Nos laboratórios dos fabricantes de implementos rodoviários e até em universidades, engenheiros trabalham para criar produtos que atendam as expectativas dos empresários de transporte. A Guerra SA., por exemplo, conta com dois módulos de caixa de carga para graneleiros. Uma em madeira e outra composta por uma fibra de vidro com maior durabilidade. “Em ambas trabalhamos para uma vedação total”, assegura Fabio Paludo, diretor industrial da companhia. Segundo ele, nos dois modelos são aplicadas borrachas – parecidas com as de portas de automóveis – que garantem a vedação do equipamento. Porém, ele destaca que por se tratar de uma vedação de borracha, com o uso o sistema vai sofrendo desgaste. “Por isso, o transportador tem de cuidar, fazer manutenção”, aconselha.
Outra empresa atenta a este problema é a Randon, que desenvolveu um sistema de vedação no painel lateral de sua linha de graneleiros que promete ser à prova de perda, de acordo com Cesar Pissetti, diretor de tecnologia e exportação da companhia. Segundo ele, antes a empresa utilizava um compensado naval, mas com o tempo o componente sofria muito desgaste. “Hoje, utilizamos três materiais: chapa de madeira reciclável, chapa de aço galvanizado, e um painel plástico, que são mais resistentes à umidade e impactos”, destaca. Além disso, a empresa adotou sistema de vedação que utiliza uma borracha flexível e que não resseca com facilidade.
Já a Rodolinea lançou recentemente um sistema de vedação exclusivo para carretas graneleiras. Segundo a empresa, o equipamento – chamado de Vedagrão – fecha completamente as tampas, com perda zero de carga, podendo ser usado também no transporte de diversos produtos a granel. Além disso, segundo a fabricante, o sistema possui uma vida útil acima de cinco anos e não aumenta o custo de aquisição para o transportador.
No universo acadêmico, foi desenvolvido recentemente um sistema de enlonamento e vedação da carreta. Criado pelos engenheiros Stergios Pericles Tsiloufas, Cesar Monzu Freire, Renato Ramirez Viana Neves e Paulo Carlos Kaminski, da Poli-USP, e Sérgio de Paula Pellegrini, da Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda, o produto realiza o enlonamento e a vedação superior da carreta em uma única ação. Tsiloufas destaca que com o sistema o processo de enlonar e desenlonar dura menos de um minuto em carretas de nove metros. “O equipamento consiste em um trilho na lateral da carroceria, com arcos e um motor elétrico alimentado pela bateria do caminhão. Sua função é movimentar a polia (cabo de aço) que puxa os arcos, onde está colada a lona”, explica. O engenheiro compara o sistema criado com o utilizado em cortinas persianas. “É como se fosse uma persiana, o cabo vai puxando a lona e encaixando perfeitamente, reduzindo o tempo de enlonamento e proporcionando um ganho logístico”, finaliza. De acordo com os engenheiros, o projeto tem viabilidade comercial, por isso, estão procurando empresas para desenvolver a solução para o mercado.
Safra 2012 pode superar os 160 milhões de toneladas
A safra 2012 será melhor que a anterior. Ao que tudo indica, o Brasil produzirá 160,3 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas, superando em 0,3% a safra de grãos constatada em 2011. Os números fazem parte do LSPA (Levantamento Sistemático da Produção Agrícola), realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em dezembro.
Embora positivos, os dados indicam queda no avanço do ritmo produtivo, já que a mesma análise revela que em 2011 a safra atingiu a marca de 159,9 milhões de toneladas, crescimento de 6,9% em comparação à safra recorde de 2010 (149,6 milhões de toneladas). No período, as três principais culturas (arroz, milho e soja), que somadas representaram 90,3% da produção, responderam por 82,4% da área colhida (48,7 milhões de hectares), registrando, em relação ao ano anterior, variações positivas de 1,7%, 3,5% e 3,3%, respectivamente. No que se refere à produção, o arroz, o milho e a soja mostram, nessa ordem, acréscimos de 19,0%, 0,1% e 9,2%.
O levantamento do instituto em relação a 2011 verificou ainda que a região Sul respondeu pelo maior volume produtivo (67,6 milhões de toneladas), seguida pelo Centro-Oeste (56,0 milhões de toneladas), Sudeste (17,2 milhões de toneladas), Nordeste (14,7 milhões de toneladas) e Norte (4,3 milhões de toneladas). Entre os Estados, o Paraná liderou a produção nacional de grãos, com participação de 19,7%, seguido pelo Mato Grosso, com 19,5%, e o Rio Grande do Sul, com 18,5%.

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